Dispatch (Episódios 1 e 2) – Vale a pena?

A indústria dos jogos narrativos ganha um novo e curioso concorrente com Dispatch, uma produção que mistura o formato de série animada interativa com aventura episódica. Desenvolvido pela AdHoc Studio, o game tem uma proposta inusitada: transformar o cotidiano de um herói aposentado em uma sátira sobre trabalho, poder e fracasso — tudo isso em um mundo cheio de super-humanos disfuncionais.

Com dois episódios já disponíveis (de um total de oito), Dispatch vem sendo comparado a clássicos da Telltale Games, como The Wolf Among Us e The Walking Dead, mas com uma pegada moderna e cômica. O jogo se passa em uma versão alternativa de Los Angeles, onde alienígenas, demônios e superpoderosos convivem com pessoas comuns — e nem sempre de forma pacífica.

Um super-herói demitido e um call center nada heroico

O jogador assume o papel de Robert Robertson, conhecido no passado como Mecha Man, um herói que vê sua carreira ruir após um acidente destruir seu traje. Sem alternativa, ele acaba trabalhando como operador de atendimento para a SDC, uma espécie de seguradora que lida com crises envolvendo superpoderes.

É daí que nasce a mistura de gêneros que torna Dispatch tão peculiar.
Metade da experiência é focada em diálogos interativos e decisões morais, enquanto a outra metade coloca o jogador em um minigame de gerenciamento — enviando super-heróis para resolver emergências pela cidade.

Cada missão exige avaliar as habilidades e personalidades da equipe, que é formada por ex-vilões tentando se reintegrar à sociedade. O resultado? Caos, piadas ácidas e muita confusão.

Mecânicas de jogo: entre diálogos e puzzles

Durante as cenas narrativas, o jogador escolhe respostas e ações que afetam a história — um formato que remete diretamente aos clássicos da Telltale.
Decisões pequenas, como um comentário ou gesto, podem ter consequências inesperadas. Aquele tradicional aviso “Fulano vai se lembrar disso” aparece com frequência, trazendo um toque nostálgico e reforçando a importância das escolhas.

Já as seções de trabalho lembram um simulador de central de operações:

  • Missões aparecem no mapa com alertas e tempo limite;
  • É preciso selecionar o herói certo para cada tarefa;
  • Sucesso garante pontos de experiência e melhorias para o time.

Há também um minigame de hacking, onde o jogador precisa guiar objetos por labirintos digitais sob pressão. Esses momentos surgem em paralelo a eventos dramáticos, aumentando a tensão e a imersão.

Humor ácido e personagens marcantes

Apesar do visual de animação leve, Dispatch é uma comédia de humor negro. O roteiro brinca com os clichês dos quadrinhos e séries de super-heróis, mas sem medo de fazer piadas pesadas ou referências modernas.

Entre os destaques do elenco estão:

  • Aaron Paul (Breaking Bad) como Robert Robertson, o protagonista;
  • Laura Bailey como Invisigal, uma ex-vilã sarcástica e imprevisível;
  • Erin Yvette como Blonde Blazer, a chefe insegura e autoritária da SDC;
  • Jeffrey Wright como Chase, um veterano de guerra com língua afiada.

Cada personagem tem camadas e conflitos próprios, criando relações que vão do cômico ao emocional. Pequenas interações, como a decisão de esconder um ferimento ou dedurar um colega, podem alterar o tom das próximas cenas.

Estilo e apresentação

Visualmente, Dispatch impressiona.
A direção de arte é comparável a produções de grandes plataformas de streaming, com animações fluidas, dublagem impecável e trilha sonora eletrônica que combina com o clima satírico da história.

A crítica internacional vem destacando o alto nível de produção e a criatividade da narrativa, que alterna entre comédia e drama sem perder o ritmo. No entanto, alguns jornalistas notam que o jogo pode pecar pela falta de interatividade, já que parte da experiência se assemelha mais a assistir a uma série do que jogar ativamente.

Uma promessa em construção

Por enquanto, apenas os dois primeiros episódios estão disponíveis, e a história ainda está longe de seu clímax. Mesmo assim, Dispatch já demonstra potencial para se tornar um dos melhores jogos narrativos de 2025.

A AdHoc prometeu lançar os seis episódios restantes até 12 de novembro, quando o game receberá sua análise final.
Até lá, fãs de Life is Strange, Telltale e Oxenfree têm bons motivos para acompanhar a jornada de Robert — um herói falido tentando se redimir em um mundo que já seguiu em frente.

Dispatch é uma mistura de comédia, drama e crítica social, embalada por um visual de série animada e uma narrativa cheia de personagens carismáticos.
Ainda que o ritmo lento e o humor peculiar possam não agradar a todos, é difícil negar o charme e a originalidade da proposta.

Se os próximos episódios mantiverem o nível de qualidade e expandirem as consequências das escolhas, Dispatch tem tudo para se tornar um dos grandes destaques do gênero narrativo em 2025.

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