Julgamento da Ubisoft por assédio sexual está acontecendo na França

Começou esta semana, na cidade de Bobigny, próxima a Paris, o julgamento de três ex-executivos da Ubisoft acusados de práticas gravíssimas de abuso e assédio dentro da empresa. Os nomes envolvidos são Serge Hascoët, Tommy François e Guillaume Patrux — figuras conhecidas e influentes na gigante dos games por anos.
O processo vai contar com os depoimentos de três homens e seis mulheres, que compartilharão suas experiências vividas dentro da Ubisoft durante o período em que trabalharam sob esses executivos. O julgamento deve seguir ao longo da semana, com expectativa de novos desdobramentos a cada dia.
Acusações que vão além do assédio moral

As denúncias expõem situações que chocaram até os mais experientes da indústria. Segundo os autos do processo, Serge Hascoët, que atuava como diretor criativo global, teria feito comentários de cunho sexual dentro de reuniões e atacado verbalmente uma funcionária muçulmana, perguntando se ela apoiava o Estado Islâmico.
Durante o Ramadã, o papel de parede do computador dessa funcionária teria sido alterado para a imagem de um sanduíche de bacon — um claro ato de provocação e desrespeito religioso.
Já Guillaume Patrux, ex-diretor de jogos, é acusado de assédio psicológico severo. Entre os relatos estão casos em que ele fingia agredir colegas, estalava chicotes próximos aos seus rostos, socava paredes e até teria ateado fogo à barba de um funcionário. Ele foi desligado da empresa após investigações internas.
O caso mais perturbador
As acusações mais graves, no entanto, recaem sobre Tommy François, ex-vice-presidente de editorial e serviços criativos. Entre 2012 e 2020, ele teria exibido filmes pornográficos no ambiente de trabalho, feito comentários constantes sobre o corpo das funcionárias, e protagonizado episódios perturbadores de humilhação e agressão.
Uma das denúncias mais graves envolve uma funcionária recém-contratada. De acordo com o processo, François a forçou a fazer uma parada de cabeça usando saia, a amarrou em uma cadeira e a enviou para outro andar usando o elevador.
Em outro momento, ele teria tentado beijar à força uma jovem funcionária durante uma festa de fim de ano, enquanto outros colegas a seguravam. Ela conseguiu se soltar e relatou ter ficado “traumatizada” com a situação.
O silêncio imposto pelo medo

As investigações revelaram que muitos funcionários se calaram por medo de retaliações. Isso levanta questionamentos sobre o quanto da cultura da empresa pode ter sido conivente com esse tipo de comportamento.
Em 2020, após as denúncias se tornarem públicas, o CEO da Ubisoft, Yves Guillemot, declarou que a empresa estava “comprometida em implementar mudanças profundas para fortalecer a cultura do ambiente de trabalho”.
Apesar das evidências e investigações internas, todos os acusados negam as acusações. O advogado de Hascoët declarou que ele “nega categoricamente ter assediado qualquer colega” e que “não teve conhecimento de atos reprováveis dentro da Ubisoft”.
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Um julgamento que pode marcar uma nova era
Este processo pode se tornar um marco na indústria dos games, ainda marcada por uma cultura que, em muitos casos, normaliza o abuso sob a desculpa da criatividade e inovação. A Ubisoft, responsável por franquias icônicas como Assassin’s Creed e Far Cry, está no centro desse furacão — e o que sair desse julgamento pode influenciar decisões em estúdios do mundo inteiro.
Enquanto isso, o mundo gamer observa com atenção. A comunidade, cada vez mais consciente e ativa, já cobra mudanças reais e estruturais em empresas do setor. Afinal, nenhum jogo, por melhor que seja, justifica um ambiente de trabalho tóxico e abusivo.
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