Como Black Myth Wukong MUDOU o mercado chinês de games

Lançado de forma explosiva, Black Myth: Wukong se consolidou como um dos maiores fenômenos da indústria de games em 2024. Em apenas três dias, o game vendeu 10 milhões de cópias, e hoje ultrapassa a marca de 30 milhões — rivalizando com títulos como Elden Ring e Hogwarts Legacy. Tudo isso sem uma versão para Xbox até agora.

Além de vendas impressionantes, o game da Game Science conquistou indicações a prêmios, reconhecimento global e serviu como símbolo de uma virada histórica na indústria de jogos da China. A ascensão do país no cenário AAA ganhou impulso com Wukong, considerado o primeiro jogo chinês de altíssimo padrão a ganhar atenção mundial.

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Um novo momento para os games da China

A proibição de consoles na China só foi derrubada em 2015. De lá para cá, o país viu o boom de jogos para PC e consoles, impulsionado por investimentos de gigantes como Tencent e projetos como o PlayStation China Hero Project.

Wu Li, CEO da publisher CE-Asia, destaca:

De 2003 a 2024, a receita total da indústria de games na China aumentou de cerca de 10 bilhões de yuans para 390 bilhões de yuans, e o número total de jogadores chineses chegou a 674 milhões. Ao que tudo indica, a China se tornou um dos maiores e mais importantes mercados de games do mundo. Uma cadeia industrial sofisticada está se formando.

Wu Li, CEO da CE-Asia

Com tanto público e potencial, Black Myth: Wukong foi a faísca que faltava para acender a nova era do game chinês premium.

Pressão e inspiração para novos estúdios

Imagem: S-Games

Com o sucesso de Wukong, outros estúdios chineses passaram a receber mais investimentos e atenção, mas também enfrentam pressão crescente.

Liang, diretor de Phantom Blade Zero, admite:

Agora todo mundo percebe que há potencial para um jogo feito na China vender 30 milhões de cópias em meio ano. Todos tinham suas expectativas, mas a projeção máxima de vendas era de 3 milhões ao longo da vida útil. Depois de Black Myth: Wukong, tudo mudou.

Soulframe Liang, diretor de Phantom Blade Zero

O mesmo se aplica à Tides of Annihilation, da Eclipse Glow Games, e ao aguardado AI Limit. Todos esses títulos, já em desenvolvimento antes de Wukong, agora surfam uma nova onda de confiança e exigência.

Por que action-RPG?

O gênero escolhido por todos esses estúdios? Action-RPG, claro.

Segundo os desenvolvedores, o estilo oferece:

  • Boa escalabilidade para estúdios médios
  • Fórmulas consolidadas, mas com espaço para inovação
  • Facilidade de orçamento controlado
  • E, claro, grande apelo visual e narrativo

Além disso, muitos desses criadores cresceram jogando RPGs de ação no PS1 e PS2. Agora, com melhores motores gráficos e inspiração em títulos como Devil May Cry, Dark Souls e Sekiro, os devs chineses estão prontos para colocar sua própria identidade no gênero.

Autenticidade ou apelo global?

Imagem: Eclipse Glow Games

Enquanto Tides of Annihilation opta por um ambiente moderno inspirado em Londres e na lenda do Rei Arthur, jogos como Phantom Blade Zero apostam na fusão entre Wuxia, cyberpunk e dark fantasy — tudo com uma identidade fortemente chinesa.

Liang explica:

Se você observar, por exemplo, o Miyazaki-san [Hidetaka] ou o Kojima-san [Hideo], embora muitos dos jogos deles tenham temas de ficção científica ou dragões e magia ao estilo ocidental, é possível perceber claramente a cultura japonesa ali. Apesar de, na superfície, não haver nada de japonês, no núcleo ainda é japonês. Acho isso algo positivo.

O que estamos fazendo é tentar diminuir a barreira de entrada para que todos possam acessar o jogo sem precisar estudar sobre cultura chinesa para entender a história. Mas, como somos chineses e temos uma visão particular sobre jogos e a indústria, estamos apresentando algumas filosofias do nosso pensamento, que é chinês.

Soulframe Liang, diretor de Phantom Blade Zero

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Concorrência saudável, inspiração mútua

Diferente do competitivo mercado mobile, os estúdios veem o sucesso uns dos outros como oportunidade de expansão do mercado. Segundo Liang:

Quando se trata de jogos single-player, acho que a concorrência se torna muito mais amigável, porque, não importa o quão bom seja o seu jogo, o jogador vai jogá-lo por, no máximo, um mês, digamos assim. E então vai passar para outro jogo. Então, se Black Myth: Wukong vender bem, isso vai abrir o mercado para todos, porque ninguém vai jogar Black Myth: Wukong por toda a vida. Eles vão terminar o jogo, se sentir bem com a experiência, ganhar confiança no mercado e na produção dos estúdios chineses — e depois vão jogar outro jogo chinês.

Soulframe Liang, diretor de Phantom Blade Zero

Além disso, o sucesso de jogos com temática chinesa como Sifu (criado por um estúdio francês) serviu como motivação extra. “Se um estúdio europeu consegue criar algo inspirado em kung-fu, por que nós não poderíamos fazer algo ainda mais autêntico?”, questiona Liang.

O futuro é agora

Seja pela confiança adquirida, pelos investimentos recebidos ou pela paixão visível em cada projeto, a China já não é mais só uma potência em jogos mobile — é também um novo polo global de jogos AAA.

E se Black Myth: Wukong foi o começo, prepare-se: o melhor ainda está por vir.

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