Vampiro: A Máscara – Bloodlines 2: análise para PS5

Ao longo das primeiras horas de Vampire: The Masquerade – Bloodlines 2, o jogo faz o possível para te convencer de que pode ser uma experiência realmente interessante. Mesmo diante de tantas dificuldades, essa sequência controversa poderia, sim, superar as expectativas.
Mas, à medida que a estrutura do jogo se torna mais evidente, fica claro que Bloodlines 2 enfrenta sérios problemas. Este novo capítulo da cultuada série, que começou em 2004, acaba se desfazendo rapidamente, apesar de ter alguns momentos de história envolventes e algumas ideias interessantes.
É verdade que, em vários aspectos, Bloodlines 2 compreende o que fez o jogo anterior tão cativante. O título original, com suas falhas, ainda é lembrado como uma cápsula do tempo encantadora — um mergulho atmosférico na subcultura dos anos 2000.
Mesmo situado em 2024, a sequência consegue, às vezes, capturar aquele tom peculiar. Existem verdadeiros momentos de intriga, seja pelo diálogo repleto de lore ou pelas reviravoltas na narrativa.
Se você curte descobrir as regras não ditas da sociedade dos vampiros, provavelmente vai apreciar muito do que Bloodlines 2 oferece através de seus personagens (na maioria, bem cativantes). Aqui há um respeito claro pela mitologia da franquia.
Contudo, ao contrário do primeiro jogo, Bloodlines 2 reduz consideravelmente as experiências de RPG, a ponto de questionarmos se realmente é um RPG. O desenvolvimento da The Chinese Room tentou suavizar essas expectativas, sugerindo que a experiência seria “mais enxuta”, mas isso poderia ser considerado uma subestimação.
Sim, você terá várias opções de diálogo e o jogo até te avisa que suas decisões importam. Mas, no final das contas, apenas duas ou três escolhas chave realmente fazem diferença durante as cerca de 15 horas de gameplay.
E mesmo assim, as consequências costumam ser duvidosas. Os personagens podem garantir que suas ações impactaram algo, mas é raro vermos essas consequências de fato. Na maioria das vezes, o que você diz se resume a respostas coloridas do interlocutor, esquecidas na próxima interação.
Além disso, a pouca liberdade de interpretação também compromete a experiência. O jogador assume o papel de Phyre, um vampiro mais experiente. Embora não haja nada de errado com isso, as opções são notavelmente limitadas.
A escolha de clã, que deveria ser um destaque, se torna uma das maiores decepções. Com um forte foco em combate, a escolha do seu clã determina como você lutará. Porém, você já terá descoberto a maioria das habilidades do clã bem antes de completar o segundo capítulo, com apenas duas ou três horas de jogo.
As árvores de habilidades são, na verdade, mais como linhas de habilidades, muito mal desenvolvidas, resultando em uma sensação quase total de falta de progressão do personagem durante a maior parte do tempo.
Ainda no início, você tem a chance de explorar o passado de Phyre, um momento curiosamente interessante, mas que basicamente desaparece no restante da história, exceto por algumas menções rápidas.
Apesar de Bloodlines 2 ter esses lampejos de esperança, um aspecto em particular se destaca como um verdadeiro fardo para a experiência: os flashbacks de Fabien.
Fabien é um detetive dos anos 1920, cuja mente está presa na cabeça de Phyre. Mesmo sendo só uma voz, ele tem um charme peculiar e a sua presença é inegavelmente intrigante. Como se espera, ele é fundamental para a trama; a história da ressurreição de Phyre tem um mistério central, e a profissão de Fabien pode ajudar a solucioná-lo.
Após anos vagando pelas ruas de Seattle antes de ser preso na mente de outro vampiro, Fabien oferece insights e contribui para a construção do mundo durante sua jornada. O problema é que muito desse conteúdo é apresentado em flashbacks longos e entediantes.
No fim de cada capítulo, Phyre volta para casa e Fabien sonha com o passado. Aí, você assume o controle do detetive e caminha pelas mesmas ruas de Seattle onde Phyre está — uma cidade já vazia, repleta de ruas e telhados que se tornam um verdadeiro desafio de navegar, já que Fabien não possui as habilidades de locomoção de Phyre.
Então, como Fabien, você ficará pulando de marcador em marcador. Quando finalmente chega a um, você se depara com um personagem, navegando em diálogos que parecem ainda mais inúteis do que os encontrados na atualidade.
A ideia é que você jogue como um detetive, mas descobrir pistas acaba se resumindo a selecionar opções de diálogo e usar uma das quatro habilidades vampíricas de Fabien para fazer com que pessoas ou objetos revelem segredos.
Esses flashbacks retiram completamente o controle do jogador. Não há nem mesmo uma ilusão de escolha — é simplesmente uma perda de tempo. Fabien deveria ser um aliado empático, mas essas sequências maçantes podem fazer você desejar que ele não estivesse lá.
Esses flashbacks destroem o ritmo do jogo repetidamente, além de qualquer tipo de fator de replay que Bloodlines 2 poderia oferecer. Uma falha impressionante na narrativa.
E quanto ao combate? Essa poderia ser uma das poucas esperanças do título, mas, como esperado, é prejudicada por decisões de design decepcionantes.
O sistema básico é uma mistura de ataques leves e pesados, combinado com uma mecânica de esquiva. Há, de fato, uma certa profundidade nas lutas corpo a corpo; esquivar-se em direções diferentes permite realizar ataques únicos, cada um com suas próprias utilizações.
A The Chinese Room claramente se dedicou a esse aspecto, e os fundamentos são satisfatoriamente impactantes. Além disso, as habilidades do seu clã — por mais limitadas que sejam — adicionam uma dose de emoção aos confrontos. Algumas delas proporcionam uma sensação ótima, como o combo de socos no estilo Fist of the North Star do clã Brujah.
Contudo, encontrar certos tipos de inimigos pode ser um verdadeiro pesadelo, arrastando muitos confrontos para uma experiência frustrante. As armas de fogo costumam ser a maior questão, com inimigos armados com espingardas e metralhadoras te aprisionando sem aviso prévio, fazendo a tela tremer como se os olhos de Phyre fossem explodir.
Em situações furtivas, talvez você não sofra tanto, mas o stealth frequentemente fica em segundo plano, dando lugar a encontros diretos forçados. Se suas habilidades estão focadas em eliminar oponentes das sombras, a sorte não está do seu lado quando se enfrenta bosses corpo a corpo e suas intermináveis hordas de capangas.
Além do desbalanceamento do combate, a situação fica ainda pior com as quedas de taxa de quadros que afetam a jogabilidade. O desempenho de Bloodlines 2 no PS5 e PS5 Pro é tão ruim que atrapalha a ação.
Não estamos falando de pequenas oscilações — o jogo apresenta quedas de taxa de quadros impressionantes. Os engasgos acontecem com frequência, não importa o ritmo da ação; até mesmo uma simples virada em um espaço restrito pode travar o jogo.
O nível técnico apresentado é de dar pena. Quando se trata de jogos com preço cheio, não vemos algo tão problemático desde a época das aventuras em mundo aberto da Bethesda no PS3 — e essas eram muito mais ambiciosas que Bloodlines 2.
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