Sony investe em anime, mas por que o PlayStation não lidera?

Sony percebeu a crescente popularidade do anime antes de muitos concorrentes e tem investido pesado nesse nicho. Em 2021, a empresa adquiriu a plataforma de streaming Crunchyroll por impressionantes US$ 1,1 bilhão e, desde então, não parou por aí, entrando em parceria com conglomerados como Kadokawa e Bandai Namco.
Essa movimentação faz parte de uma estratégia mais ampla da Sony, que busca integrar suas divisões e se reinventar como uma empresa de entretenimento, incluindo a PlayStation nesse novo plano. Hermen Hulst, chefe dos PlayStation Studios, falou recentemente sobre a importância do anime para conquistar o público mais jovem, reconhecendo que é uma ótima chance de explorar novas formas de expandir suas marcas. Afinal, o anime se tornou um fenômeno entre as gerações Z e Alpha.
Durante a Anime Expo, a Netflix revelou que a audiência de anime na sua plataforma triplicou nos últimos cinco anos. Estima-se que cerca de 50% dos 300 milhões de assinantes da plataforma assistem a animes. Além disso, a Sony anunciou uma série de anime baseada no modo multiplayer de Ghost of Tsushima, que será lançada no Crunchyroll em 2027. Isso pode aumentar o interesse pelos jogos, assim como aconteceu com Devil May Cry 5, que viu um aumento nas vendas após o lançamento de sua adaptação em anime.
Uma pesquisa de 2023 do Fandom revelou que aproximadamente 60% dos fãs de anime também são gamers, e esses fãs têm uma propensão 40% maior a gastar em jogos do que o consumidor médio. Isso abre um leque de oportunidades bastante promissor para a PlayStation, que não só possui várias franquias que poderiam ser adaptadas para o formato de anime, mas também pode investir em novos jogos próprios que atraiam esse público.
Games em estilo anime, como Metaphor: ReFantazio e Persona 5 Royal, têm feito bastante sucesso, com este último alcançando 7,25 milhões de unidades vendidas em todas as plataformas. Mesmo jogos com uma pegada mais realista, como Clair Obscur: Expedition 33, têm encontrado seu espaço. Embora tenha um estilo gráfico diferente, seu design remete aos clássicos jogos da era do PS1, atraindo assim vários fãs pelo sentimento de nostalgia.
Contudo, a maneira como a PlayStation tem abordado a produção de conteúdo relacionado ao anime é um tanto quanto complexa. Embora tenha firmado acordos de exclusividade com a Square Enix para novas entradas de franquias conhecidas, como Final Fantasy XVI, a empresa japonesa pretende explorar lançamentos em múltiplas plataformas, alinhando suas metas de negócios.
O curioso é que muitas das iniciativas da Square Enix em relação ao anime vêm através da Aniplex, uma divisão da Sony Music Entertainment, que fica um pouco distante da PlayStation. Sucessos como Fate/Grand Order e a adaptação do mangá Demon Slayer, que bateu vários recordes no Japão, mostram que a empresa está sim investindo em anime, mas de forma um tanto desconectada da marca PlayStation.
O que deixa os fãs um pouco confusos, é que em 2023, a Aniplex lançou um jogo muito bem recebido, The Hundred Line: Last Defense Academy, mas apenas para Nintendo Switch e PC, sem um port para o PS5 em vista. Isso indica uma falta de alinhamento entre as partes da Sony, o que frustra a expectativa de muitos.
A PlayStation parece estar focada em tentar encontrar sucesso em jogos de serviço, mas nisso acaba se perdendo. Recentemente, lançou o FPS Concord, que não teve boa reception, e está trabalhando em outros jogos do mesmo gênero. Por outro lado, títulos como Genshin Impact, que atraem uma base de fãs de anime sólida e geram bilhões, estão sendo deixados de lado.
Um exemplo interessante é o jogo Uma Musume Pretty Derby, que fez bastante sucesso no Ocidente, mostrando que há espaço para explorar ainda mais o mercado de anime. A PlayStation, no entanto, parece estar ausente nessa conversa.
O anúncio de Marvel Tokon: Fighting Souls pode indicar que a PlayStation está disposta a diversificar seus investimentos. Este jogo, ao que tudo indica, terá um suporte continuado, com novos personagens e etapas a serem lançados. Mas por ser uma exceção, gera a dúvida se isso é o suficiente.
É claro que há um grande mercado de fãs de anime que a PlayStation pode aproveitar, alinhando-se às aspirações da empresa. No entanto, fora do jogo de luta mencionado, não há muitas iniciativas. A rica coleção de franquias da PlayStation, como Wild Arms e Gravity Rush, poderia ser revisitada, mas muitas dessas oportunidades podem ter se perdido com o fechamento do Japan Studio em 2021.
A percepção de que o anime pode ser um vetor de crescimento é verdadeira, especialmente dado o cruzamento entre fãs de anime e videogames. Contudo, a contribuição da PlayStation a essa estratégia pode e deve ser mais robusta. A adaptação de franquias já existentes certamente pode abrir novas portas, mas também seria interessante desenvolver novas experiências que cativem ainda mais os fãs de anime.
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